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O termo unicórnio é muito familiar para quem é do ramo de startups. O termo se refere àquelas startups com um valuation igual ou acima de um bilhão de dólares. Números tão altos costumam chamar bastante a atenção das pessoas e, por isso, sempre ouvimos falar das startups que foram bem-sucedidas em realizar as rodadas de investimento que as elevaram a este patamar mitológico. Alguns exemplos são o Dropbox, Uber, Airbnb, Snapchat, dentre outros.
O valuation nada mais é do que o valor que é atribuído à uma empresa. Agora, se é algo tão simples, porque gera tanta discussão? A aquisição de participação por um investidor em uma startup será baseada no valuation. Por isso a razão de tanta discussão acerca deste termo. É ele também o responsável pelo surgimento dos unicórnios.
Ocorre que uma empresa pode ser avaliada por diversas metodologias. Pode-se fazer a avaliação por meio da quantificação dos seus ativos e passivos, metodologia denominada de avaliação contábil ou patrimonial (asset based value). Outra maneira é verificar quanto valem empresas similares no mercado, metodologia denominada de avaliação por múltiplos ou valor de mercado (relative valuation). Por fim, outra metodologia muito utilizada é a projeção das receitas futuras da startup com a aplicação de uma taxa de desconto para então calcular o valor presente do resultado obtido, denominada de fluxo de caixa descontado (discounted cash flow).
No caso de startups iniciantes (early stage), geralmente não se utiliza a metodologia do fluxo de caixa descontado pois ela requer relativa previsibilidade do fluxo de caixa da empresa. Se a startup não possui um histórico de fluxo de caixa, projetar isso para o futuro pode ser algo muito difícil – por isso, nestes casos, trabalha-se com suposições. Do ponto de vista do investidor, por se tratarem de suposições, podem não ser tão confiáveis, o que gera um maior risco de erro na avaliação que está sendo feita. Além disso, do ponto de vista do empreendedor, as taxas de desconto aplicadas na metodologia do fluxo de caixa descontado são geralmente altas para refletir o risco que uma startup representa para um potencial investimento.
Em contrapartida, embora a avaliação por múltiplos possa parecer interessante, em modelos de negócio disruptivos como é geralmente o caso de startups, essa metodologia pode não ser a mais adequada para o cálculo do valor do negócio, já que não existe uma referência clara no mercado para servir de parâmetro (benchmark). Além disso, como bem se sabe, cada empresa possui uma dinâmica própria, o que significa que não é só porque uma empresa parecida possui determinado valor que uma concorrente poderá ser avaliada no mesmo patamar.
Por fim, a maior parte das startups não possui ativos quantificáveis já que costumam basear seu modelo de negócios em serviços ou produtos fornecidos por meio de softwares, sem que existam bens físicos (máquinas, estoque etc.) que possam ser quantificados, o que dificulta também a utilização do método de valor contábil.
Em cada uma das metodologias adotadas é possível chegar a um valor diferente e, por isso, é importante adotar aquela que mais se adequa à realidade da startup a ser avaliada. Cada metodologia também possui vantagens e desvantagens, o que deve ser balizado pelo negócio que se pretende avaliar.
É importante ressaltar que, embora a avaliação de empresas possa parecer uma ciência exata, também é influenciada por fatores emocionais e, por isso, depende muito da disposição de um investidor em comprar determinada porcentagem da startup a um valor específico oferecido pelo empreendedor. Por exemplo, se um investidor está disposto a pagar cem milhões de dólares por dez por cento de uma startup, pode-se afirmar que se trata de um unicórnio – isso porque proporcionalmente dez por cento da startup a um preço de cem milhões de dólares é o mesmo que afirmar que essa startup vale um bilhão de dólares, se considerarmos cem por cento da participação societária com base no valuation atribuído por este investidor. Em outras palavras, o valuation dessa startup é de um bilhão de dólares e, por isso, pode-se afirmar que foi criado um unicórnio.
Uma coisa é certa: o empreendedor sempre fará de tudo para que o valuation seja o mais alto possível, de forma que ele terá de abrir mão de pouca participação de seu negócio. Do outro lado, o investidor sempre fará o possível para comprar a participação na startup por um valor que ele considera justo. Do ponto de vista estratégico, a obtenção de participação societária em uma empresa não representa somente a quantia que cada um receberá da startup caso ela venha a ser bem sucedida. Significa também ter determinados poderes de controle dos negócios desenvolvidos pela startup (obtenção de quóruns para votação, posição majoritária etc.), possuir determinados direitos (direitos de minoritário) e restrições (cláusulas de tag along), seja por força de lei ou por contrato (em um acordo de sócios, por exemplo). Assim, o valuation de uma startup tem o poder de influenciar a quantidade de participação adquirida por um investidor ou mantida por um empreendedor que se refletirá nos ganhos financeiros, poder de controle da empresa e obtenção ou restrição de alguns direitos.
Equipe Molina Advogados